from: Roberta Ferraz
to: Re Huber, Erica
date: Fri, Oct 9, 2009 at 12:32 PM
subject: aéreo porto
vamos começar a satisfação dos nossos desejos - ?
pergunto ......... pergunta
hoje eu quero pouco, um pedaço do dia relatado, talvez
porque não estaremos juntas
sonhei mal, um avião caía na Índia
13 pessoas morriam, apenas e era quase
agora, estar a ouvir coltrane babalú ou o que lhe baste
e cantante alegre na toada das estradas de praia
e de repente buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum
ou então amarrada dentro de um pássaro de metal
narcotrancafiada num objeto reto voador
e de repente craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash
isso não
e toda a noite a labuta de engendrar e mercerer
a boa morte, enquanto o bafo do sonho me coloca
diante de uma violenta margem a dizer
adeus sem boca, muda, mulher proibida de falar
(isso: não dizer, não dizer a morte equivalendo
o não morrer? - eu morro pela palavra - é isso?
o corpo que me cabe precisa findar pela palavra -
é isso a oração)
porque morrer sem o deixar-se o largar-se
é ficar ainda, mas já sem corpo, no trauma
de ser não ser
é como viver vários dias que se vive só no esperar
a morte
não é? aí equivalentes, a morte veloz e a vida plácida.
duas coisas que embotam medo
que embotam buracos
nos relógios
ahhhhhh erica renata amadas
cansei por ora
vim aqui falar de desejos e só consegui dizer o pesadelo
e toda a metafísica mais íntima
é verdade é desejo é o mais recôndido
desta que vos falam
vou ter de voar
e voltar para as Índias - circunavegação pelos ares
pelos pêlos da família
lá conviver de frente ao mar
sal nos olhos e peito embutido?
medo de voar
bom feriado
pra vcs duas
e vão de estrela
por favor
ao lado da
aeronave
hj às 19hs
por favor
me dêem as
mãos
beijos
r.
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Fri, Oct 9, 2009 at 7:36 PM
subject: Re: aéreo porto
as ferroadas do fogo zumbindo seu enxame de estrelas....
começo....rasgando os véus do grito
estrangeirando meus passos
no escuro que se cumpre
entre a pedra e a corda bamba
minhas feridas agora
elocubrando bicicletas
aéreas acrobacias
nos fios de nylon de uma infância
há um tecido em tudo isso
eu fiz dos cacos um tecido
e escoleótica
tombei
serpenteando meus festins
com a queridinha das torturas
essa pele que roçamos
digo
esse desejo pergaminho
que nos conflui e orienta
vos deseja e vos consagra
entre o nada e o abismo
entre nós e vós
um palhaço alquimista
um equilibrista do pasmo
em guilhotinas cor-de-rosa
dança, dizem...
roça o ventre nessa farpa
e diz à eles a dor que dói
diz ana, sylvia
aushwitz
explode teu silêncio e dramatiza teu perfil
um abajur cirúrgico
por exemplo
o tétrico devir das vítimas
nas vitrines do poder
uma luz
fria
cortante uma quilha
e um choro antigo de mulher
ancorando num teatro
........................
acordes do avesso
era o nome
o crucifixo de madeira
a perna, de pau
os carrosséis da santidade
e as vertigens faraônicas
do meu ego impublicável
.....................................
dizer ou não dizer
as hemorróidas da morte
gozar ou não gozar
em seu manto de tricô
gritar ou calar
os ratos que me olham
pelas frestas do porão...
hoje tive um lapso...
hoje
sonhei com o doutor...
hoje
rasguei uma foto...
.................................
hoje viagem
banho de mar e muito jazz
para aguentar a tia avó
hoje amor, nabokov
ardor de vozes
desejos
desejos de encontro
de vasos comunicantes
do mais recôndito exílio
de liberdade
desejo de abraçar vocês
erica e roberta
de brindar e seguir brindando
o ser em nós, em vós
o ser...
ahhhhhh...
bom feriado minhas lindas
bons ventos....
beijo, beijo
e até
rê
from: erica zingano
to: Renata Huber, Roberta Ferraz
date: Sat, Oct 10, 2009 at 9:20 AM
subject: Re: aéreo porto
queridas
tranças
de mulheres
a olhar o mar
estive e estou assim
perdida entre capas e capas
de livros espalhadas pelo chão
ontem fui comprar uma nova estante
para recolher tantas páginas preciosas
pedras entre os pés molhados
da água bêbada do tejo
fiz um promessa, depois dos 30 anos
não comprarei mais livros
(quer dizer, não comprarei mais livros assim)
http://www.flickr.com/photos/cadernodeviagens/3996097653/
escrevo com mais calma, depois
um poema de chegada
um beijo, e começamos
"ama como a estrada começa"
é o verso do cesariny na cabeça
ah! portugal portugal
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 1:24 PM
subject: açudes
companheiras
divisoras do pão comigo
olhe, saí dos portos aéreos
para um açude bem suculento
negro subterrâneo
estou hoje paralisada
com a sensação de estar tudo errado
(sim, re, esses dias vêm a mim, com uma estranha frequencia até)
mas não vou choramingar lamentar me exilar me exaltar
estou triste
sem vontades de astrolgias, por um tempo
exangue
ocupada demais com os sonhos memorialísticos que ando tendo
ai, queria sair comprar estantes arrumar os livros da casa
talvez precise mesmo de vcs comigo, pra essa arrumação da casa
sabe?
re tua voz poética é FODA. tens imagens que me arrebatam!
em que recanto ficam esconsos todos esses tesouros?
que prece quebra o elo que os mantem atados ao escuro?
se for algo que se possa vir em voz, quero cantá-los.
quero ler alto com vocês ler mais alto ainda ouvir da boca
o nosso encontro
hj, triste
dor na garganta
me relembra o mário
estou estudando para a aula que vou dar 2af próxima
e coisas muito coisas belas do octavio paz vieram
coisas que quero repartir
e aquela sua via, eriqueta, na primeira linha do paz no livro
'f. pessoa, o desconhecido de si mesmo', quando ele diz:
'o poeta não tem biografia. sua obra é a sua biografia'.
é isso, não?
esse é um texto que gostaria de ler com vcs.
se eu não colo nos ditames surrealistas, gente, aí a coisa aperta mesmo.
só o erro liberta
então quiça uma filigrana de pena tenha brotado aqui no meu projeto de asa?
mas tudo muito cansativo, muito esforçado, muito mala pesada
a geografia da cidade, apesar, dá um alento, salva um pouquinho - fui no pão de açucar, subi bondinho - isso é quase erótico,
não fosse o sol 40 graus e a turistada fotográfica ao redor suando feliz
eu preciso encontrar vocês
preciso precioso
já proposta: esta 5af, às 18hs - início de nosso encontro amor-teatro amor-tecido? para o drama extático "O Marinheiro"?
tiro cópias largas para nós três.
vamos começar essa viagem? assim, no erro, sem saber onde nos levará?
até lá,
estudos portugueses
nostalgia
sonhos assustadores (onde os mortos ressuscitam)
(os mortos que eu preferiria mortos mesmo)
e uma tristeza de moletom, silêncio, e celular desligado
mas com amor
em vocês
bjs
rosa
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 9:20 PM
subject: Re: açudes
envolta em luz
laranja (a garganta
da fala
comer o mundo
dos vivos
e dos mortos
eu arrasto o pé
e não saio
perto
e longe
meu momento
é agora
entretecida
& rarefeita
de estados
ainda não cheguei
mas hoje
me proibi de ir
e disse não
ao meu pensamento
queria tomar outro avião
e voltar
"seu tempo é aqui"
repeti
expresso dois dois - dois dois
acho que era assim o nome da música
era boa conversa no balcão
do supermercado
a sra. profa de biologia
que vinha com essa estória de foto antiga
foto pra contar o passado
1939 era agora a mais antiga
lá no projeto da usp de genética
saí às gargalhadas com ela
tão às gargalhadas que esqueci
a cândida (água sanitária / lixívia /
quiboa, variações em português
para dizer - melhor - tornar branco)
no balcão do supermercado
não voltei atrás
estou no agora
no instante
no estalo
"foi por medo de avião"
(ele também escorpiano)
reinventou a morte
a sua própria sorte
jogo de sim e de não
sem escapatória
nosso teatro de sombras
e luz
eu vejo
e revejo
a imagem das três mulheres de costas
encostadas à amurada
cabelos crista crina
estamos lá
(cortei, de leve os meus hoje,
estou graciosa como uma menina,
"a menina é brasileira...)
quando começamos?
ah, nossa leitura dramática!
abraço em silêncio
estou tão perdida
e cansada
de dias e dias
de viagem
de volta
não consigo escrever
de tanto pra organizar
mas aparece aqui e ali
um pensamento solto
entre lampejos
de ainda lisboa
no meu coração
acelerado
aos poucos
me aproprio do tempo
dos por fazeres e adentro
bem devagar
em cada ciclo do instante
voltei a organizar o tempo
entre tantas ideias soltas
trazidas pela viagem
volto para não perder o hábito
da caneta sempre perto da mão
é uma carícia
a caneta
lá onde eu
sem saber
me lanço mais uma vez
ao desconhecido de mim
com vocês sempre perto
um alento
de perder o tempo
sem perder o chão
http://www.flickr.com/photos/cadernodeviagens/4009348805/
bez
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 9:26 PM
subject: Re: açudes
queridas
5ª é bem
desculpem a tontice
ando sonâmbula sonâmbula
aguardo confirmação,
ah, sra. ferraz, por favor
entendemos a necessidade de descanso e revisões astrológicas
mas precisamos dos seus serviços de atendimento
marcamos o mapa pra quando, vc diz, na sua agenda mágica
beijos
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Wed, Oct 14, 2009 at 9:46 AM
subject: RE: açudes
amadas amêndoas
ontem fiquei lendo carta do pessoa ao cortes-rodrigues, até bem dentro madrugada
amei e me irritei
porque sempre saio das correspondências com um sentido de "ah, entendi"
e ao final fica o macaquinho dos xistes pregando peças, não descansando, dizendo "ah, sua tonta!"
e aí o aí
essa coisa mesclada de coisas
mas a carta é muito bela e muito megalomaníaca
mas ele sabia disso, então está 'perdoado', rs...
amanhã, no MARANITO, amores?
eriqueta confirmada, eu confirmada, ............renatinhaaaaaaaaaa, aonde estás?
eriqueta, amanhã mesmo já marcamos em agendola mágica a data de seu mapa
para o seu, querida, não tenho sono, sou feliz nele!
bom, agora vou passar por aí: Maranus, Kalunga, Correio, sol.
ah, quero conversas: ontem descobri aí uma bolsa de creative writing da UNESCO, que pode ser experimentada na França ou na Índia!
estou querendo me inscrever, mas não sei se dá tempo, é só até 31 de outubro... tentarei,,,,,vcs não topam?
vamos às Índias, chicas? vamos ao tempero das canelas?
vou ler seu mail maior agora eriqueta
e até amanhã quinta quentinha
beijos
renataaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, aparece
beijos
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Wed, Oct 14, 2009 at 2:44 PM
subject: Re: açudes
queridas minhas,
cheguei ontem da ilha bela e fui direto pro teatro
um curso de meia tijela
horrivelzinho de ruim mas nem tanto
pois a tia nos regalou o Cântico Negro do Régio
e foi aquele auê.
Saí de lá coçando
doida pra encenar o poema com vocês e bumba
quinta-feira marcado, confirmado
o marinheiro no maranus !
A gripe me pegou
uma mistura de gim
com ar condicionado
mas amanhã estarei bem
espero
lendo as mensagens de vocês
me ocorreu...
à beira do açude
uma garça
bashô
uma vontade alaranjada
e outras leituras
......................
a vida haikai
intensa
o instante do lapso
lázuli
a pedra lúbrica
de sol
e era uma vez um bichinho
digo
um ser meio asa
meio barbatana
um tipo inadaptado
que eu contei para as crianças
e chamei de "Algo"
o que na terra
definha
contar histórias
é maiêutico
descobri que as crianças
aquelas
são amigas dos piratas
e sonhei
um navio fantasma
com três mulheres à bordo
...............
Acabo de ler "Já estivemos em Lisboa sem jamais ter estado", um artigo do Enrique Vila-Matas, na revista Serrote
esse sonambulismo....aiaiai
sigo com vós
no mais fundo
e rizomático
de mim
quem sabe as índias
as áfricas
uma missão apocalíptica
no casaquistão
siiiimmm
beijo saudoso de amanhã
rê
from: erica zingano
to: roberta ferraz, renata huber
date: Sun, Oct 18, 2009 at 8:29 PM
no subject
voltar o olhar para as nossas conversas
e sentir sempre
depois
pela distância talvez
um silêncio
percorrendo o interior das nossas falas
nesses textos, e-mails que ficaram
esperando resposta
é sempre a tentativa de se chegar
a algum lugar
nosso
onde nunca tocamos
e nem nos deixamos tocar
o desvio da fala
esse silêncio
criando novos caminhos
é talvez o texto que nunca escreveremos
juntos
porque não falamos
juntos
em outra língua
a distância é ainda maior
mais natural
me interrogo qual o sentido
de estar me envolvendo neste enlace
entre essas vozes
monopólio no meio de poetas
todas mulheres
de estirpes elevadas
- quem sois vós, bendito homem
entre nós?
é a pergunta que nunca te fiz
e acho que nunca farei
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Mon, Oct 19, 2009 at 10:36 AM
subject: terror antigo
perco os escritos
e também me debruço sobre
esse inevitável mistério: quem sermos nós
nesse gesto de olhar para trás?
que tabu rompido talvez escape em nossos olhos?
por que, ó raios, este marinheiro extático,
esse drama grandioso de nossa imperfeição?
também me detenho me fluo me pergunto,
o que entre nós move a roldana da leitura
a roldana de linho e véu das mãos em escrita
das noites no maranus, janela aberta?
buscamos como orpheu, (onde o marinheiro
primeiro assumiu mar e correnteza)
um vislumbre de eurídice?
como arianas ariadnes aranhas
buscamos um (quem sabe) breve
descanso
para a alma?
é isso um olhar para trás
ir além da regra mágica que burla o corpo hesitante
o grande tabu primitivo que era romper a caminhada e
olhar para trás
é isso que fazemos, nós
clandestinas de uma outra cidade
de uma outra cicatriz?
juntas, entre sons e cheiros e LSD em palavras
rosas artificiosas como uma meditação
desse que tu sempre intercalas
-eriqueta- nas escaladas
do escrever
à mão
quem somos? o que?
que vento breve do poente
deitou em nossos dia de cidade
afungentada
e
agora
bela
arde?
tempos de pessoa
alheadas na floresta
irmanadas em noites bambas
gente dando a mão
em drama?
texto solto que nos ata
quem somos?
é tudo um grande mistério
i know not what tomorrow will bring
and yet
súbita mão de algum fantasma oculto
entre as dobras da noite e do meu sono
sacode-me e eu acordo, e no abandono
da noite não enxergo gesto ou vulto.
mas um terror antigo, que insepulto
trago no coração, como de um trono
desce e se afirma meu senhor e dono
sem ordem, sem meneio e sem insulto.
e eu sinto a minha vida de repente
presa por uma corda de Inconsciente
a qualquer mão nocturna que me guia.
sinto que sou ninguém salvo uma sombra
de um vulto que não vejo e que me assombra,
e em nada existo como a treva fria
(Pessoa, obras completas, p.57)
terror antigo incauto lastro
abre-nos a raia do negrume
e das vísceras enroladas no abdomen
cava um alo de um tempo outro
justo
justo à nossa temperada intempérie
ao fulgir massacrado das idéias
à parca contemplação do que nos fere
às mãos num gesto irresoluto
terror antigo veste-nos em nosso
corpo e luto, calha em nós a fome
densa de dar as mãos os tecidos
a face
ao rosto de uma à outra
aparição
evoé
from: Renata Huber
to: erica zingano,Roberta Ferraz
date: Mon, Oct 19, 2009 at 10:51 PM
no subject
entranhadas gaivotas
sopram tédio
eu me vejo
roçando o eco imperial
do alheio esquecimento
o extático estupor
das clepsidras que se vergam
bocejando o artifício
das orgias esfumadas
sonhos verde-anis
apenas
o sentir expectante
do sem sentido que me roça
agora, um barco
um marulho de lençóis
hasteados no longínquo
um sono de viver
debandando as ilusões
estilhaçando os ossos
contra as rochas encantadas
será este o sentido
me pergunto
enquanto a morte vai ao leme
imprevisível das fanfarras
a morte e suas falas
nostálgicas
irmanadas
from: erica zingano
to: roberta ferraz, renata huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 10:26 AM
subject: mistério latada
meninas, li esse poema por aí
(obs. o mistério da latada!)
BALOIÇO
O tempo no baloiço pendulava
e era infindo, dependente, meu.
Sob a latada o tempo eu conduzia,
ele voava segundo a segundo,
rebanho, sem poeira, desfilava.
Quase tocava nos cachos de uva.
Outro tempo infiltrava-se nos bagos,
chamava pardais, abelhas, cestos vindimos,
e embrandecia, adoçava a sua queda.
António Osório
e no poema da sophia a imagem de lata se repete,
Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver
----------------------------------------------------------
Para além da incônscia beleza do poema (hehe)
na criação da cidade pelo dizer da palavra cidade
há o mistério da imagem de lata (hummm)
mais uma vez aqui, no vocabulário lusitano
a imagem se repete
graças a deus não como latada
ainda um mistério irresoluto para nós
será que essa imagem (nada bela)
não é um dos mistérios do quinto império português?
bez
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 7:35 PM
subject: Re: marinheiras, texto rilke paisagem
queridas
segue o texto rilke paisagem
bez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 7:52 PM
subject: RE: marinheiras, texto boa noite
gracias eriqueta
e para dar boa noite, uma das coisas mais fabulosas que li nesta vida, neste hoje:
"
à lareira, cansados, não da obra
mas porque a hora é a hora dos cansaços,
não puxemos a voz
acima de um segredo
"
tudo isso, só isso
boa noite marujas
hasta
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 8:00 PM
subject: Re: marinheiras, texto boa noite
ah gente
segue a foto das colunatas do tejo
pórtico para o infinito
de que falamos hoje
beijos
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 8:08 PM
subject: RE: marinheiras, texto boa noite
yesyesyes
já temos nosso cenário
podemos altear bandeira e fogo nas águardentes
em que navegamos
na noite dos encargos
amo
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Wed, Oct 21, 2009 at 12:09 AM
subject: Re: marinheiras, texto boa noite
queridas marujas marinheiras sereias
navegar o barco incógnito
dos nossos sonhos a teatro
uplahô !
animadíssima
vibrando junto
as brisas
os sopros
as presenças todas
thanks rô, ez,
pelo rilke, ricardo
llansol, baudelaire
a foto inspiradora
ahhhh
a leitura compartilhada abre sentidos, horizontes, profundidades...
beijo beijo
rê
from: Renata Huber
to: erica zingano, Roberta Ferraz
date: Wed, Oct 21, 2009 at 12:59 AM
subject: vegetaçõesmarinhas
segue trechos de "Nos penhascos de mármore", de Ernst Jünger.
Não encontrei o trecho exato, que se bem me lembro, descreve a floresta caos, o éden da barbárie e por aí vai. Mas acho que esse dialoga...
"Quando estamos felizes, as mais modestas dádivas deste mundo satisfazem os nossos sentidos. Desde sempre eu venerei o reino vegetal e, em muitos anos de peregrinação, investiguei os seus prodígios. Era-me familiar o momento em que o coração palpita, ao se pressentirem os segredos que cada grão de semente abriga em seu desenvolvimento. Contudo, o esplendor do crescimento nunca me fora tão próximo quanto o era nesse chão que exalava um cheiro de verde há muito fenecido.
Antes de me deitar eu perambulava um instante no estreito corredor central. Naquelas meias-noites eu pensava amiúde que jamais observara as plantas tão reluzentes e admiráveis. Sentia de longe o aroma dos vales espinhosos e constelados de brancura, que na primavera eu fruíra na Arabia Deserta, e o cheiro de baunilha que refresca o caminhante no calor sem sombras dos bosques de araucárias. Então, como páginas de um velho livro, emergiam novamente as lembranças de certas horas de indescritível abundância - de pântanos quentes nos quais a vitória-régia e de vegetações marinhas que de longe se vêem arder, ao meio-dia, sobre suas pálidas pernas-de-pau, defronte a costas de palmeiras. Faltava-me, porém, o medo que nos assalta sempre que vislumbramos o crescimento demasiado, o qual, de modo semelhante à imagem divina, com mil braços nos atrai. Eu sentia como, por meio de nossos estudos, novas forças despontavam para resistir aos ardentes poderes anímicos e domá-los, assim como os cavalos são conduzidos pela rédea.
Amanhecia, muitas vezes, antes que eu me estirasse sobre o catre de campanha que tinha sido armado no herbário. (pg 35,36)
.....
"Logo a abertura se apresentava larga como o portão de um celeiro. Acendemos as tochas e adentramos a floresta como se imergíssemos numa garganta escura" (pg 141)
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Wed, Oct 21, 2009 at 10:01 AM
subject: cavalo da noite
antes mesmo de ler seus escritos de ontem, companheiras
levanto-me de roupão recém saída do sonho
e venho vos contar isso:
não me lembro muito bem, há sempre nuvem nisso
mas eu conversava, julgo que com o gilbert durand
ou não, era um homem mais velho...
eu dizia a ele que meu projeto de mestrado - sim,
era ela, agora lembro - havia nascido de ler seu livro
- o exato texto que separei para lermos hoje -
e ele me perguntou: 'e o cavalo que você viu
vinha de manhã ou de noite?'
e eu fechava os olhos para me lembrar, e disse:
'eu li teu livro à noite, era um cavalo da noite'
e ele: 'ahhhhh, pois bem, porque sendo o cavalo
da manhã o cavaleiro bem podia ser 'robert graves',
mas o cavalo da noite é guiado pelo próprio
conquistador, por ele mesmo'.
algo mais de névoa entoou
e eu me senti como uma égua de fogo
um fogo-fátuo aterrorizador, belo
que coisa!
e agora acordada, nesta outra realidade
(ainda durmo?) olho minha estante de livros
e o livro do robert graves está em minha frente:
'a deusa branca'. e esse nome? robert - roberta
graves - túmulos?
minha morte again and again vindo falar comigo?
influência de ter me despedido da vigília, ontem, com o Reis?
e o cavaleiro da noite? o conquistador?
d. sebastião, é isso? é novamente ele
- o sete estrelo - me empunhando ao texto?
por que mistério, eu pergunto? e esta entrega,
sou eu que ofereço?
vejo vcs no cair do dia
amo
rosa
to: Re Huber, Erica
date: Fri, Oct 9, 2009 at 12:32 PM
subject: aéreo porto
vamos começar a satisfação dos nossos desejos - ?
pergunto ......... pergunta
hoje eu quero pouco, um pedaço do dia relatado, talvez
porque não estaremos juntas
sonhei mal, um avião caía na Índia
13 pessoas morriam, apenas e era quase
agora, estar a ouvir coltrane babalú ou o que lhe baste
e cantante alegre na toada das estradas de praia
e de repente buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum
ou então amarrada dentro de um pássaro de metal
narcotrancafiada num objeto reto voador
e de repente craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash
isso não
e toda a noite a labuta de engendrar e mercerer
a boa morte, enquanto o bafo do sonho me coloca
diante de uma violenta margem a dizer
adeus sem boca, muda, mulher proibida de falar
(isso: não dizer, não dizer a morte equivalendo
o não morrer? - eu morro pela palavra - é isso?
o corpo que me cabe precisa findar pela palavra -
é isso a oração)
porque morrer sem o deixar-se o largar-se
é ficar ainda, mas já sem corpo, no trauma
de ser não ser
é como viver vários dias que se vive só no esperar
a morte
não é? aí equivalentes, a morte veloz e a vida plácida.
duas coisas que embotam medo
que embotam buracos
nos relógios
ahhhhhh erica renata amadas
cansei por ora
vim aqui falar de desejos e só consegui dizer o pesadelo
e toda a metafísica mais íntima
é verdade é desejo é o mais recôndido
desta que vos falam
vou ter de voar
e voltar para as Índias - circunavegação pelos ares
pelos pêlos da família
lá conviver de frente ao mar
sal nos olhos e peito embutido?
medo de voar
bom feriado
pra vcs duas
e vão de estrela
por favor
ao lado da
aeronave
hj às 19hs
por favor
me dêem as
mãos
beijos
r.
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Fri, Oct 9, 2009 at 7:36 PM
subject: Re: aéreo porto
as ferroadas do fogo zumbindo seu enxame de estrelas....
começo....rasgando os véus do grito
estrangeirando meus passos
no escuro que se cumpre
entre a pedra e a corda bamba
minhas feridas agora
elocubrando bicicletas
aéreas acrobacias
nos fios de nylon de uma infância
há um tecido em tudo isso
eu fiz dos cacos um tecido
e escoleótica
tombei
serpenteando meus festins
com a queridinha das torturas
essa pele que roçamos
digo
esse desejo pergaminho
que nos conflui e orienta
vos deseja e vos consagra
entre o nada e o abismo
entre nós e vós
um palhaço alquimista
um equilibrista do pasmo
em guilhotinas cor-de-rosa
dança, dizem...
roça o ventre nessa farpa
e diz à eles a dor que dói
diz ana, sylvia
aushwitz
explode teu silêncio e dramatiza teu perfil
um abajur cirúrgico
por exemplo
o tétrico devir das vítimas
nas vitrines do poder
uma luz
fria
cortante uma quilha
e um choro antigo de mulher
ancorando num teatro
........................
acordes do avesso
era o nome
o crucifixo de madeira
a perna, de pau
os carrosséis da santidade
e as vertigens faraônicas
do meu ego impublicável
.....................................
dizer ou não dizer
as hemorróidas da morte
gozar ou não gozar
em seu manto de tricô
gritar ou calar
os ratos que me olham
pelas frestas do porão...
hoje tive um lapso...
hoje
sonhei com o doutor...
hoje
rasguei uma foto...
.................................
hoje viagem
banho de mar e muito jazz
para aguentar a tia avó
hoje amor, nabokov
ardor de vozes
desejos
desejos de encontro
de vasos comunicantes
do mais recôndito exílio
de liberdade
desejo de abraçar vocês
erica e roberta
de brindar e seguir brindando
o ser em nós, em vós
o ser...
ahhhhhh...
bom feriado minhas lindas
bons ventos....
beijo, beijo
e até
rê
from: erica zingano
to: Renata Huber, Roberta Ferraz
date: Sat, Oct 10, 2009 at 9:20 AM
subject: Re: aéreo porto
queridas
tranças
de mulheres
a olhar o mar
estive e estou assim
perdida entre capas e capas
de livros espalhadas pelo chão
ontem fui comprar uma nova estante
para recolher tantas páginas preciosas
pedras entre os pés molhados
da água bêbada do tejo
fiz um promessa, depois dos 30 anos
não comprarei mais livros
(quer dizer, não comprarei mais livros assim)
http://www.flickr.com/photos/cadernodeviagens/3996097653/
escrevo com mais calma, depois
um poema de chegada
um beijo, e começamos
"ama como a estrada começa"
é o verso do cesariny na cabeça
ah! portugal portugal
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 1:24 PM
subject: açudes
companheiras
divisoras do pão comigo
olhe, saí dos portos aéreos
para um açude bem suculento
negro subterrâneo
estou hoje paralisada
com a sensação de estar tudo errado
(sim, re, esses dias vêm a mim, com uma estranha frequencia até)
mas não vou choramingar lamentar me exilar me exaltar
estou triste
sem vontades de astrolgias, por um tempo
exangue
ocupada demais com os sonhos memorialísticos que ando tendo
ai, queria sair comprar estantes arrumar os livros da casa
talvez precise mesmo de vcs comigo, pra essa arrumação da casa
sabe?
re tua voz poética é FODA. tens imagens que me arrebatam!
em que recanto ficam esconsos todos esses tesouros?
que prece quebra o elo que os mantem atados ao escuro?
se for algo que se possa vir em voz, quero cantá-los.
quero ler alto com vocês ler mais alto ainda ouvir da boca
o nosso encontro
hj, triste
dor na garganta
me relembra o mário
estou estudando para a aula que vou dar 2af próxima
e coisas muito coisas belas do octavio paz vieram
coisas que quero repartir
e aquela sua via, eriqueta, na primeira linha do paz no livro
'f. pessoa, o desconhecido de si mesmo', quando ele diz:
'o poeta não tem biografia. sua obra é a sua biografia'.
é isso, não?
esse é um texto que gostaria de ler com vcs.
se eu não colo nos ditames surrealistas, gente, aí a coisa aperta mesmo.
só o erro liberta
então quiça uma filigrana de pena tenha brotado aqui no meu projeto de asa?
mas tudo muito cansativo, muito esforçado, muito mala pesada
a geografia da cidade, apesar, dá um alento, salva um pouquinho - fui no pão de açucar, subi bondinho - isso é quase erótico,
não fosse o sol 40 graus e a turistada fotográfica ao redor suando feliz
eu preciso encontrar vocês
preciso precioso
já proposta: esta 5af, às 18hs - início de nosso encontro amor-teatro amor-tecido? para o drama extático "O Marinheiro"?
tiro cópias largas para nós três.
vamos começar essa viagem? assim, no erro, sem saber onde nos levará?
até lá,
estudos portugueses
nostalgia
sonhos assustadores (onde os mortos ressuscitam)
(os mortos que eu preferiria mortos mesmo)
e uma tristeza de moletom, silêncio, e celular desligado
mas com amor
em vocês
bjs
rosa
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 9:20 PM
subject: Re: açudes
envolta em luz
laranja (a garganta
da fala
comer o mundo
dos vivos
e dos mortos
eu arrasto o pé
e não saio
perto
e longe
meu momento
é agora
entretecida
& rarefeita
de estados
ainda não cheguei
mas hoje
me proibi de ir
e disse não
ao meu pensamento
queria tomar outro avião
e voltar
"seu tempo é aqui"
repeti
expresso dois dois - dois dois
acho que era assim o nome da música
era boa conversa no balcão
do supermercado
a sra. profa de biologia
que vinha com essa estória de foto antiga
foto pra contar o passado
1939 era agora a mais antiga
lá no projeto da usp de genética
saí às gargalhadas com ela
tão às gargalhadas que esqueci
a cândida (água sanitária / lixívia /
quiboa, variações em português
para dizer - melhor - tornar branco)
no balcão do supermercado
não voltei atrás
estou no agora
no instante
no estalo
"foi por medo de avião"
(ele também escorpiano)
reinventou a morte
a sua própria sorte
jogo de sim e de não
sem escapatória
nosso teatro de sombras
e luz
eu vejo
e revejo
a imagem das três mulheres de costas
encostadas à amurada
cabelos crista crina
estamos lá
(cortei, de leve os meus hoje,
estou graciosa como uma menina,
"a menina é brasileira...)
quando começamos?
ah, nossa leitura dramática!
abraço em silêncio
estou tão perdida
e cansada
de dias e dias
de viagem
de volta
não consigo escrever
de tanto pra organizar
mas aparece aqui e ali
um pensamento solto
entre lampejos
de ainda lisboa
no meu coração
acelerado
aos poucos
me aproprio do tempo
dos por fazeres e adentro
bem devagar
em cada ciclo do instante
voltei a organizar o tempo
entre tantas ideias soltas
trazidas pela viagem
volto para não perder o hábito
da caneta sempre perto da mão
é uma carícia
a caneta
lá onde eu
sem saber
me lanço mais uma vez
ao desconhecido de mim
com vocês sempre perto
um alento
de perder o tempo
sem perder o chão
http://www.flickr.com/photos/cadernodeviagens/4009348805/
bez
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 13, 2009 at 9:26 PM
subject: Re: açudes
queridas
5ª é bem
desculpem a tontice
ando sonâmbula sonâmbula
aguardo confirmação,
ah, sra. ferraz, por favor
entendemos a necessidade de descanso e revisões astrológicas
mas precisamos dos seus serviços de atendimento
marcamos o mapa pra quando, vc diz, na sua agenda mágica
beijos
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Wed, Oct 14, 2009 at 9:46 AM
subject: RE: açudes
amadas amêndoas
ontem fiquei lendo carta do pessoa ao cortes-rodrigues, até bem dentro madrugada
amei e me irritei
porque sempre saio das correspondências com um sentido de "ah, entendi"
e ao final fica o macaquinho dos xistes pregando peças, não descansando, dizendo "ah, sua tonta!"
e aí o aí
essa coisa mesclada de coisas
mas a carta é muito bela e muito megalomaníaca
mas ele sabia disso, então está 'perdoado', rs...
amanhã, no MARANITO, amores?
eriqueta confirmada, eu confirmada, ............renatinhaaaaaaaaaa, aonde estás?
eriqueta, amanhã mesmo já marcamos em agendola mágica a data de seu mapa
para o seu, querida, não tenho sono, sou feliz nele!
bom, agora vou passar por aí: Maranus, Kalunga, Correio, sol.
ah, quero conversas: ontem descobri aí uma bolsa de creative writing da UNESCO, que pode ser experimentada na França ou na Índia!
estou querendo me inscrever, mas não sei se dá tempo, é só até 31 de outubro... tentarei,,,,,vcs não topam?
vamos às Índias, chicas? vamos ao tempero das canelas?
vou ler seu mail maior agora eriqueta
e até amanhã quinta quentinha
beijos
renataaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, aparece
beijos
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Wed, Oct 14, 2009 at 2:44 PM
subject: Re: açudes
queridas minhas,
cheguei ontem da ilha bela e fui direto pro teatro
um curso de meia tijela
horrivelzinho de ruim mas nem tanto
pois a tia nos regalou o Cântico Negro do Régio
e foi aquele auê.
Saí de lá coçando
doida pra encenar o poema com vocês e bumba
quinta-feira marcado, confirmado
o marinheiro no maranus !
A gripe me pegou
uma mistura de gim
com ar condicionado
mas amanhã estarei bem
espero
lendo as mensagens de vocês
me ocorreu...
à beira do açude
uma garça
bashô
uma vontade alaranjada
e outras leituras
......................
a vida haikai
intensa
o instante do lapso
lázuli
a pedra lúbrica
de sol
e era uma vez um bichinho
digo
um ser meio asa
meio barbatana
um tipo inadaptado
que eu contei para as crianças
e chamei de "Algo"
o que na terra
definha
contar histórias
é maiêutico
descobri que as crianças
aquelas
são amigas dos piratas
e sonhei
um navio fantasma
com três mulheres à bordo
...............
Acabo de ler "Já estivemos em Lisboa sem jamais ter estado", um artigo do Enrique Vila-Matas, na revista Serrote
esse sonambulismo....aiaiai
sigo com vós
no mais fundo
e rizomático
de mim
quem sabe as índias
as áfricas
uma missão apocalíptica
no casaquistão
siiiimmm
beijo saudoso de amanhã
rê
from: erica zingano
to: roberta ferraz, renata huber
date: Sun, Oct 18, 2009 at 8:29 PM
no subject
voltar o olhar para as nossas conversas
e sentir sempre
depois
pela distância talvez
um silêncio
percorrendo o interior das nossas falas
nesses textos, e-mails que ficaram
esperando resposta
é sempre a tentativa de se chegar
a algum lugar
nosso
onde nunca tocamos
e nem nos deixamos tocar
o desvio da fala
esse silêncio
criando novos caminhos
é talvez o texto que nunca escreveremos
juntos
porque não falamos
juntos
em outra língua
a distância é ainda maior
mais natural
me interrogo qual o sentido
de estar me envolvendo neste enlace
entre essas vozes
monopólio no meio de poetas
todas mulheres
de estirpes elevadas
- quem sois vós, bendito homem
entre nós?
é a pergunta que nunca te fiz
e acho que nunca farei
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Mon, Oct 19, 2009 at 10:36 AM
subject: terror antigo
perco os escritos
e também me debruço sobre
esse inevitável mistério: quem sermos nós
nesse gesto de olhar para trás?
que tabu rompido talvez escape em nossos olhos?
por que, ó raios, este marinheiro extático,
esse drama grandioso de nossa imperfeição?
também me detenho me fluo me pergunto,
o que entre nós move a roldana da leitura
a roldana de linho e véu das mãos em escrita
das noites no maranus, janela aberta?
buscamos como orpheu, (onde o marinheiro
primeiro assumiu mar e correnteza)
um vislumbre de eurídice?
como arianas ariadnes aranhas
buscamos um (quem sabe) breve
descanso
para a alma?
é isso um olhar para trás
ir além da regra mágica que burla o corpo hesitante
o grande tabu primitivo que era romper a caminhada e
olhar para trás
é isso que fazemos, nós
clandestinas de uma outra cidade
de uma outra cicatriz?
juntas, entre sons e cheiros e LSD em palavras
rosas artificiosas como uma meditação
desse que tu sempre intercalas
-eriqueta- nas escaladas
do escrever
à mão
quem somos? o que?
que vento breve do poente
deitou em nossos dia de cidade
afungentada
e
agora
bela
arde?
tempos de pessoa
alheadas na floresta
irmanadas em noites bambas
gente dando a mão
em drama?
texto solto que nos ata
quem somos?
é tudo um grande mistério
i know not what tomorrow will bring
and yet
súbita mão de algum fantasma oculto
entre as dobras da noite e do meu sono
sacode-me e eu acordo, e no abandono
da noite não enxergo gesto ou vulto.
mas um terror antigo, que insepulto
trago no coração, como de um trono
desce e se afirma meu senhor e dono
sem ordem, sem meneio e sem insulto.
e eu sinto a minha vida de repente
presa por uma corda de Inconsciente
a qualquer mão nocturna que me guia.
sinto que sou ninguém salvo uma sombra
de um vulto que não vejo e que me assombra,
e em nada existo como a treva fria
(Pessoa, obras completas, p.57)
terror antigo incauto lastro
abre-nos a raia do negrume
e das vísceras enroladas no abdomen
cava um alo de um tempo outro
justo
justo à nossa temperada intempérie
ao fulgir massacrado das idéias
à parca contemplação do que nos fere
às mãos num gesto irresoluto
terror antigo veste-nos em nosso
corpo e luto, calha em nós a fome
densa de dar as mãos os tecidos
a face
ao rosto de uma à outra
aparição
evoé
from: Renata Huber
to: erica zingano,Roberta Ferraz
date: Mon, Oct 19, 2009 at 10:51 PM
no subject
entranhadas gaivotas
sopram tédio
eu me vejo
roçando o eco imperial
do alheio esquecimento
o extático estupor
das clepsidras que se vergam
bocejando o artifício
das orgias esfumadas
sonhos verde-anis
apenas
o sentir expectante
do sem sentido que me roça
agora, um barco
um marulho de lençóis
hasteados no longínquo
um sono de viver
debandando as ilusões
estilhaçando os ossos
contra as rochas encantadas
será este o sentido
me pergunto
enquanto a morte vai ao leme
imprevisível das fanfarras
a morte e suas falas
nostálgicas
irmanadas
from: erica zingano
to: roberta ferraz, renata huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 10:26 AM
subject: mistério latada
meninas, li esse poema por aí
(obs. o mistério da latada!)
BALOIÇO
O tempo no baloiço pendulava
e era infindo, dependente, meu.
Sob a latada o tempo eu conduzia,
ele voava segundo a segundo,
rebanho, sem poeira, desfilava.
Quase tocava nos cachos de uva.
Outro tempo infiltrava-se nos bagos,
chamava pardais, abelhas, cestos vindimos,
e embrandecia, adoçava a sua queda.
António Osório
e no poema da sophia a imagem de lata se repete,
Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver
----------------------------------------------------------
Para além da incônscia beleza do poema (hehe)
na criação da cidade pelo dizer da palavra cidade
há o mistério da imagem de lata (hummm)
mais uma vez aqui, no vocabulário lusitano
a imagem se repete
graças a deus não como latada
ainda um mistério irresoluto para nós
será que essa imagem (nada bela)
não é um dos mistérios do quinto império português?
bez
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 7:35 PM
subject: Re: marinheiras, texto rilke paisagem
queridas
segue o texto rilke paisagem
bez
Sobre a Paisagem – Rainer Maria Rilke (trad. Do francês Beto Tibaji)
Sabe-se bem pouco sobre a pintura da antiguidade; mas não é tão arriscado supor que ela representava os homens assim como os pintores de uma época mais recente viram a paisagem. Nas imagens de vasos, naqueles testemunhos inesquecíveis de uma grande arte do desenho, o cenário (casa ou rua) é apenas citado, de certa maneira abreviado, designado por sua inicial ; mas os homens nus são aí absolutamente iguais às arvores que carregam frutos e guirlandas de frutos ou a arbustos que florescem e a primaveras nas quais cantam os pássaros. Naquele tempo, o corpo, que se cultivava assim como uma terra, sobre o qual se suava como para obter dele uma colheita, e que era possuído assim como se possui um bom terreno, era a única beleza que retinha o olhar, a imagem que todas as significações, deuses e animais e todos os sentidos da vida atravessavam alinhados ritmicamente. O homem, embora existisse há milênios, era ainda novo demais para si mesmo. A paisagem era: o caminho no qual ele andava, a pista na qual ele corria, eram todos aqueles estádios e praças de jogos ou de dança onde se realizava o dia grego; eram os vales onde se reuniam as forças armadas, os portos de onde se partia para a aventura e aonde se chegava, mais velho e cheio de lembranças inauditas; os dias de festa e as noites que, enfeitadas com um tilintar prateado, a eles sucediam, as ascensões rumo aos deuses e o movimento em torno do altar – esta era a paisagem na qual se vivia. Mas era desconhecida a montanha em que nenhum deus com rosto de homem morasse; desconhecido o promontório onde não se erguesse nenhuma estátua visível à distância; desconhecidas as encostas que nenhum pastor tivesse explorado, não mereciam que se lhes consagrasse uma única palavra. Eram apenas cenas vazias enquanto o homem não aparecesse, animando este cenário com a ação serena ou trágica de seu corpo. Tudo o esperava, e lá onde ele aparecia, tudo se apagava para lhe dar lugar.
A arte cristã negligenciou estar relação com o corpo, sem por isso se aproximar verdadeiramente da paisagem; homens e coisas eram como caracteres dos quais ela dispunha, formando longas frases, cuidadosamente pintadas com um alfabeto de iniciais. Os homens eram roupas, e somente no inferno eram corpos; a paisagem raramente era a terra. Em quase toda pintura onde a paisagem era agradável ela precisava estar representando o céu e nas que fosse selvagem e inóspita, despertava o terror, era o lugar dos exilados, eternamente perdidos. Começava-se a ver a paisagem; porque os homens haviam se tornado finos e transparentes, mas eles eram feitos de tal modo que deveriam sentir a paisagem como uma duração efêmera, como túmulos enfileirados invadidos pelo verdor, sob os quais estava suspenso o inferno e sobre os quais se abria o grande céu como a verdadeira realidade, profunda e desejada por tudo o que é. Agora que, de repente, havia três lugares, três moradas sobre as quais havia muito a falar: céu, terra e inferno; tornava-se indispensável uma determinação dos lugares, era preciso olha-los e até mesmo representa-los. Nos Mestres primitivos italianos, esta representação, ultrapassando o próprio objeto, atingiu uma grande perfeição, basta lembrar as pinturas de Campo Santo em Pisa para sentir que a concepção da paisagem já havia atingido uma certa autonomia. Certamente acreditava-se designar um lugar e nada mais, mas isso era feito com tal calor e com um tal abandono, falava-se com uma eloqüência tão atraente e com tanto amor às coisas que eram ligadas à terra, a esta terra suspeita e renegada pelos homens, que esta pintura hoje nos aparece como um hino a esta terra, entoado pelos santos. E todas as coisas que se via eram novas, de modo que esta contemplação era acompanhada por um espanto perpetuo, por uma alegria provocada por inúmeras descobertas. E consequentemente, ao mesmo tempo que a terra, celebrava-se o céu que se aprendia a conhecer porque se tinha saudades de seu conhecimento. Porque a piedade profunda é como uma chuva: acaba sempre recaindo sobre a terra de onde se elevou e é uma benção para os campos.
Sem querer, tinham sentido o calor, a felicidade e o esplendor que podem irradiar de um prado, de uma vertente florida e de árvores carregadas de frutos que se erguem umas ao lado das outras; de tal modo que quando se pintavam madonas, esta riqueza cercava-as como se fosse um casaco, coroava-as como se fosse uma coroa e a abriam-se paisagens, como bandeiras, em sua honra; porque não se sabia preparar-lhes nenhuma festa mais animada, não se conhecia nenhum dom que igualasse a este: apresentar-lhes todas as belezas que acabavam de ser descobertas e fundi-las com a madonas. Não se designava mais nenhum lugar específico, nem o céu: entoava-se a paisagem como um hino a Maria, que explodia em cores vivas e claras.
Mas, fazendo isso, dera-se um grande passo. Pintava-se a paisagem sem se pensar precisamente nela, tendo em vista sobretudo a si mesmo; ela tornara-se pretexto para a expressão de um sentimento humano, a parábola de uma alegria, de uma simplicidade e de uma piedade humanas. Tornara-se arte. E Leonardo já a concebera assim. As paisagens em seus quadros são imagens da sua experiência e de seu saber os mais secretos, espelhos azuis onde leis misteriosas contemplam-se pensativamente, fundos grandes como futuros e enigmas não resolvidos. Não é por acaso que Leonardo, que começou a pintar homens como experiências, como destinos que ele havia atravessado solitariamente, sentiu também a paisagem como meio de expressão de uma experiência, de uma profundidade e de uma tristeza quase indizíveis. A este homem que antecipava tantas conquistas ainda irrealizáveis foi dado usar todas as artes com uma infinita grandeza; ele falava através delas como em línguas múltiplas, de sua vida e de progressos e profundidades de sua vida. Ninguém pintou ainda uma paisagem que seja tão completamente paisagem e que seja, no entanto, confissão e voz pessoal como esta profundidade que se abre atrás da Mona Lisa. Como se tudo que é humano estivesse contido na sua imagem infinitamente silenciosa e como se todo o resto, tudo que está diante do homem e tudo que o ultrapassa, estivesse contido nesta relação misteriosa de montanhas, arvores, pontes, céus e água. Esta paisagem não é a imagem de uma impressão, não é a opinião de um homem sobre coisas imóveis; ela é natureza em devir, mundo em gestação, tão estrangeira ao homem quanto uma floresta desconhecida numa ilha deserta. E era preciso olhar a paisagem como uma coisa longínqua e estrangeira, como uma coisa perdida e sem amor, que se realiza por inteira em si mesma, para que, um dia, ela pudesse servir de meio e de ponto de partida para uma arte autônoma. Era preciso que ela fosse distante e muito diferente de nós para que pudesse tornar-se uma parábola libertadora para o nosso destino. Era preciso que na sua indiferença sublime se mostrasse quase hostil para poder oferecer à nossa existência uma nova interpretação graças a seus objetos. Foi com este espírito que tomou forma esta arte da paisagem da qual Leonardo da Vinci já tivera o pressentimento e o domínio. Ela se desenvolveu lentamente, entre as mãos de solitários, de século em século. Longa era a estrada que precisava ser trilhada porque era difícil se desacostumar do mundo de maneira tão completa que fosse permitido vê-lo sem o olho prevenido do indígena que relaciona tudo com ele mesmo e com suas necessidades quando olha. Sabemos quão mal vemos as coisas no meio das quais vivemos; geralmente é preciso que alguém venha para nos dizer o que nos cerca; foi necessário então começar por afastar as coisas de si para tornar-se capaz, em seguida, de aproximar-se delas de modo mais imparcial e mais sereno, com menos familiaridade e com um recuo respeitador, porque só no instante se começava a compreendê-la; quando sentia-se que ela era outra coisa, esta realidade que não toma parte, que não tem sentidos para nos perceber, só então se saía dela, solitário, fora de um mundo deserto.
E isso era preciso para que o artista se tornasse artista por ela; não se devia mais senti-la enquanto sujeito, na significação que ela tinha para nós, mas como objeto, como uma grande realidade que estava aí.
Foi assim que se experimentou o homem no tempo em que pintavam-no grande; mas o homem se tornou oscilante e incerto e sua imagem tornava-se fluida, quase inapreensível. A natureza era mais durável e maior; todos os movimentos nela eram mais largos, todo repouso mais simples e cercado de solidão. Havia no homem uma saudade de falar de si através destes meios sublimes, como de uma realidade não menos forte, e foi assim que nasceram as paisagens onde nada acontece. Mares desertos foram pintados, casas brancas em dias chuvoso, estrada nas quais ninguém caminha e extensões de água de uma indizível solidão. O pathos se dissipava cada vez mais, e quanto mais se dominava esta língua, mais simplesmente ela era utilizada. Afundava-se na grande calma das coisas, sentia-se sua existência tomar a forma de leis, sem espera e sem impaciência. E os animais iam e vinham por entre elas, calmos, suportando como elas o dia e a noite, obedecendo às mesmas leis. E quando o homem, mais tarde, entrou nesse ambiente, como pastor, camponês, ou simplesmente figura no fundo do quadro, ele havia perdido toda presunção e via-se que ele não queria ser nada além de uma coisa.
Este desenvolvimento da arte da paisagem, esta lenta transformação do mundo em paisagem corresponde a uma longa evolução do homem. O conteúdo destas imagens, que emanava, de modo absolutamente involuntário, da contemplação e do trabalho, nos ensina que um futuro começou no coração de nosso tempo; que o homem não é mais o ser sociável que se move em equilíbrio por entre seus semelhantes, nem aquele em torno do qual gravitam a noite e a manhã, o próximo e o distante. Que ele está entre as coisas como uma coisa, infinitamente só, e que toda comunhão de coisas e homens se retirou para a profundidade comum onde se nutrem as raízes de tudo o que cresce.
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 7:52 PM
subject: RE: marinheiras, texto boa noite
gracias eriqueta
e para dar boa noite, uma das coisas mais fabulosas que li nesta vida, neste hoje:
"
à lareira, cansados, não da obra
mas porque a hora é a hora dos cansaços,
não puxemos a voz
acima de um segredo
"
tudo isso, só isso
boa noite marujas
hasta
from: erica zingano
to: Roberta Ferraz, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 8:00 PM
subject: Re: marinheiras, texto boa noite
ah gente
segue a foto das colunatas do tejo
pórtico para o infinito
de que falamos hoje
beijos
ez
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Tue, Oct 20, 2009 at 8:08 PM
subject: RE: marinheiras, texto boa noite
yesyesyes
já temos nosso cenário
podemos altear bandeira e fogo nas águardentes
em que navegamos
na noite dos encargos
amo
from: Renata Huber
to: Roberta Ferraz, Erica
date: Wed, Oct 21, 2009 at 12:09 AM
subject: Re: marinheiras, texto boa noite
queridas marujas marinheiras sereias
navegar o barco incógnito
dos nossos sonhos a teatro
uplahô !
animadíssima
vibrando junto
as brisas
os sopros
as presenças todas
thanks rô, ez,
pelo rilke, ricardo
llansol, baudelaire
a foto inspiradora
ahhhh
a leitura compartilhada abre sentidos, horizontes, profundidades...
beijo beijo
rê
from: Renata Huber
to: erica zingano, Roberta Ferraz
date: Wed, Oct 21, 2009 at 12:59 AM
subject: vegetaçõesmarinhas
segue trechos de "Nos penhascos de mármore", de Ernst Jünger.
Não encontrei o trecho exato, que se bem me lembro, descreve a floresta caos, o éden da barbárie e por aí vai. Mas acho que esse dialoga...
"Quando estamos felizes, as mais modestas dádivas deste mundo satisfazem os nossos sentidos. Desde sempre eu venerei o reino vegetal e, em muitos anos de peregrinação, investiguei os seus prodígios. Era-me familiar o momento em que o coração palpita, ao se pressentirem os segredos que cada grão de semente abriga em seu desenvolvimento. Contudo, o esplendor do crescimento nunca me fora tão próximo quanto o era nesse chão que exalava um cheiro de verde há muito fenecido.
Antes de me deitar eu perambulava um instante no estreito corredor central. Naquelas meias-noites eu pensava amiúde que jamais observara as plantas tão reluzentes e admiráveis. Sentia de longe o aroma dos vales espinhosos e constelados de brancura, que na primavera eu fruíra na Arabia Deserta, e o cheiro de baunilha que refresca o caminhante no calor sem sombras dos bosques de araucárias. Então, como páginas de um velho livro, emergiam novamente as lembranças de certas horas de indescritível abundância - de pântanos quentes nos quais a vitória-régia e de vegetações marinhas que de longe se vêem arder, ao meio-dia, sobre suas pálidas pernas-de-pau, defronte a costas de palmeiras. Faltava-me, porém, o medo que nos assalta sempre que vislumbramos o crescimento demasiado, o qual, de modo semelhante à imagem divina, com mil braços nos atrai. Eu sentia como, por meio de nossos estudos, novas forças despontavam para resistir aos ardentes poderes anímicos e domá-los, assim como os cavalos são conduzidos pela rédea.
Amanhecia, muitas vezes, antes que eu me estirasse sobre o catre de campanha que tinha sido armado no herbário. (pg 35,36)
.....
"Logo a abertura se apresentava larga como o portão de um celeiro. Acendemos as tochas e adentramos a floresta como se imergíssemos numa garganta escura" (pg 141)
from: Roberta Ferraz
to: Erica, Re Huber
date: Wed, Oct 21, 2009 at 10:01 AM
subject: cavalo da noite
antes mesmo de ler seus escritos de ontem, companheiras
levanto-me de roupão recém saída do sonho
e venho vos contar isso:
não me lembro muito bem, há sempre nuvem nisso
mas eu conversava, julgo que com o gilbert durand
ou não, era um homem mais velho...
eu dizia a ele que meu projeto de mestrado - sim,
era ela, agora lembro - havia nascido de ler seu livro
- o exato texto que separei para lermos hoje -
e ele me perguntou: 'e o cavalo que você viu
vinha de manhã ou de noite?'
e eu fechava os olhos para me lembrar, e disse:
'eu li teu livro à noite, era um cavalo da noite'
e ele: 'ahhhhh, pois bem, porque sendo o cavalo
da manhã o cavaleiro bem podia ser 'robert graves',
mas o cavalo da noite é guiado pelo próprio
conquistador, por ele mesmo'.
algo mais de névoa entoou
e eu me senti como uma égua de fogo
um fogo-fátuo aterrorizador, belo
que coisa!
e agora acordada, nesta outra realidade
(ainda durmo?) olho minha estante de livros
e o livro do robert graves está em minha frente:
'a deusa branca'. e esse nome? robert - roberta
graves - túmulos?
minha morte again and again vindo falar comigo?
influência de ter me despedido da vigília, ontem, com o Reis?
e o cavaleiro da noite? o conquistador?
d. sebastião, é isso? é novamente ele
- o sete estrelo - me empunhando ao texto?
por que mistério, eu pergunto? e esta entrega,
sou eu que ofereço?
vejo vcs no cair do dia
amo
rosa
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